Estudo revela os fatores que influenciam o recrutamento e a dispersão de larvas de peixe | - CCMAR -
 

Estudo revela os fatores que influenciam o recrutamento e a dispersão de larvas de peixe

 

Durante o seu projeto de doutoramento, Vânia Baptista desenvolveu uma investigação que estudou quais os principais fatores que influenciam a variabilidade de recrutamento e dispersão em espécies de peixes temperados. Esta investigação contou com a colaboração do Prof. Eric Wolanski da Universidade James Cook (Austrália).

 

Espécie e área de estudo
A Ria Formosa, no Algarve, é uma importante área de reprodução e proteção para vários peixes, como o Sargo (Diplodus sargus). Este, é um peixe demersal de climas temperados que habita em recifes rochosos costeiros, fundos arenosos e fundos de ervas marinhas. O sargo é uma espécie abundante ao longo da costa portuguesa e sustenta importantes pescarias. 

 

Capacidades sensoriais e natatórias incluídas em modelos de dispersão das larvas de peixe
Hipóteses anteriores, sugeriam que as larvas de peixes que eram desovadas em zonas costeiras, chegavam aos seus habitats de berçário de uma forma passiva, ou seja, só dependiam dos processos oceanográficos como as correntes oceânicas, marés ou eventos meteorológicos, não incluindo o comportamento natatório das larvas. 

A hipótese Sense Acuity and Behavioural (SAAB), propõe que o desenvolvimento da acuidade sensorial (consciência dos sentidos) nas larvas de peixes temperados e as suas respostas aos sinais dos seus habitats de berçário (o cheiro, som, imagem, geomagnetismo) são essenciais para o sucesso dos processos de recrutamento. Deste modo, o desenvolvimento das capacidades sensoriais e natatórias aliadas à interação com os processos de transporte, tem mostrado  que as larvas de peixe podem controlar, ou pelo menos influenciar, a sua dispersão e recrutamento.

Neste estudo, os investigadores testaram a hipótese SAAB ao estudarem a entrada de larvas de peixes temperados – o sargo – num habitat utilizado como berçário, a Ria Formosa. Aliaram os resultados dos estudos sobre a acuidade sensorial, capacidades natatórias e os traços de personalidade das larvas num modelo biofísico - Individual-Based Models (IBM) - para calcular a entrada do sargo na ria. Desde a implementação do IBM, o comportamento natatório das larvas de peixes começou a ser incluído na análise dos modelos de dispersão em conjunto com os traços biológicos larvares e os padrões oceanográficos costeiros, o que permitiu determinar a dispersão e transporte dos ovos e larvas, e identificar os habitats de recrutamento. 

 

A importância de combinar o comportamento das larvas de peixe e os processos da oceanografia nos modelos de dispersão das larvas de peixe para calcular o recrutamento
Os resultados deste estudo mostram que a entrada das larvas do sargo na Ria Formosa depende em grande parte da localização dos locais de desova ao longo da costa e das correntes predominantes. Para além disso, também depende das suas capacidades sensoriais e natatórias que minimizam a advecção através dos processos oceanográficos e maximizam a retenção na Ria Formosa. 

As maiores taxas de entrada na ria foram observadas em larvas cujos locais de desova se encontravam em áreas com profundidades que variavam entre os 15 e 17 metros. A entrada de larvas na ria foi causada tanto pelo transporte passivo como pelas capacidades natatórias das larvas.

Esta investigação mostrou a importância de combinar o comportamento das larvas de peixe e os processos da oceanografia nos modelos de dispersão larvar para calcular o recrutamento. Esta informação pode ser útil para aperfeiçoar a gestão das pescas, como por exemplo as áreas de pesca, encerramentos de habitats e localização de recifes rochosos artificiais.
 

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