Treze potenciais habitats marinhos prioritários descobertos no Canhão de São Vicente, ao largo de Sagres
Estes habitats marinhos profundos, que incluem jardins de corais e agregações de esponjas, são essenciais para a saúde dos ecossistemas marinhos. Agora que foram identificados como habitats prioritários, torna-se urgente implementar medidas para a sua conservação.
Ecossistemas profundos por explorar
Ao largo de Sagres, na costa sudoeste de Portugal, encontra-se um enorme desfiladeiro submarino no qual a profundidade desce rapidamente dos 70 m até mais de 4000 m. Chama-se Canhão de São Vicente e, com cerca de 120 km de comprimento e 20 km de largura, é uma das características mais distintivas desta região da plataforma continental Portuguesa.
Nos canhões submarinos, como o de São Vicente, encontra-se uma elevada biodiversidade devido à sua geomorfologia complexa. No entanto, ainda se sabe pouco acerca dos seus ecossistemas, especialmente acerca das comunidades que habitam substratos rochosos mais profundos, nos quais os métodos tradicionais de amostragem não são muito eficazes. Contudo, o desenvolvimento de ferramentas modernas, como os veículos de operação remota (ROVs), tem permitido explorar estes ecossistemas complexos de grande profundidades.
A convite da Oceana, uma ONG internacional dedicada à conservação do Oceano, o CCMAR teve a oportunidade de participar numa expedição científica realizada no Atlântico Oriental, com o objetivo de mapear e documentar habitats marinhos profundos em águas portuguesas. Por escolha do CCMAR, o Canhão de São Vicente, onde ainda não existiam registos de habitats marinhos de profundidade, foi um dos principais alvos destas expedições a bordo do navio “Ranger”.
Identificados treze potenciais habitats prioritários
No decorrer da expedição, os investigadores tiveram a oportunidade de estudar a biodiversidade e ecossistemas da zona superior do canhão, que é normalmente a região mais utilizada pela pesca de fundo. Para isso, realizaram-se imersões com o ROV em três zonas de amostragem, entre os 90 e os 560 metros de profundidade. Nestes mergulhos, e ao longo de quase 9 km, o ROV filmou fundos marinhos que nunca tinham sido observados antes. Analisando as filmagens, os investigadores descobriram habitats profundos como jardins de corais e extensas agregações de esponjas.
Habitats profundos formados por corais e esponjas têm vindo a ser reconhecidos pela sua importância e vulnerabilidade. De facto, as estruturas formadas pelas esponjas e corais oferecem abrigo, alimentação, e zonas de berçário para outras espécies, aumentando a sua abundância e a biodiversidade em geral. Estes habitats assumem um papel fundamental na dinâmica dos ecossistemas de profundidade e no sequestro de carbono azul, atuando como sumidouros de carbono ao reterem carbono nas suas estruturas. Por outro lado, por crescerem muito lentamente e levarem muito tempo a reproduzirem-se, os corais e as esponjas de profundidade são mais vulneráveis a impactos e requerem medidas de proteção para se manterem saudáveis.
Devido à grande vulnerabilidade destes habitats profundos, existem enquadramentos legais que os definem como “habitats prioritários” para proteção, como a OSPAR (Convenção para a Proteção do Ambiente Marinho do Atlântico Nordeste), ou a Diretiva Habitats (diretiva que assegura a proteção da biodiversidade na União Europeia). No Canhão de São Vicente, 13 dos habitats que foram encontrados enquadram-se nas definições de habitats prioritários da OSPAR e da Directiva Habitats. Porém, estes habitats ainda não dispõem de medidas adequadas de conservação para serem eficazmente protegidos.
Mapeamento e aplicação de medidas de conservação de habitats marinhos profundos é fundamental para uma utilização sustentável dos nossos oceanos
Os treze habitats, identificados neste estudo no canhão de São Vicente como potenciais habitats prioritários e engenheiros de ecossistemas, são muito sensíveis aos impactos das atividades de pesca de fundo, e alguns estão também ameaçados pelas alterações nos processos de sedimentação que podem acompanhar a pesca de arrasto nos flancos do canhão.
Sabe-se que os habitats profundos e circalitorais (zonas pouco iluminadas que alcançam aproximadamente os 200m de profundidade) são essenciais para a saúde dos ecossistemas marinhos. Por isso, as ações de conservação e gestão precisam de ser apoiadas através da informação e de conhecimentos científicos. Este trabalho contribuiu para aumentar o conhecimento dos ecossistemas profundos da costa Portuguesa, em particular na região sudoeste, aplicando métodos científicos para a definição dos diferentes habitats marinhos, incluindo os habitats considerados prioritários para a conservação.
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