De fevereiro a abril, investigadores do CCMAR promoveram oito encontros com pescadores entre Olhão e Viana do Castelo para o intercâmbio de conhecimentos sobre os impactos das alterações climáticas. 

Recorrendo ao conhecimento que têm da biologia e ecológica das espécies que existe atualmente os investigadores explicaram os efeitos que as alterações climáticas terão no sector das pescas no futuro em que as condições do mar serão diferentes. Desta forma para cada região de Portugal os cientistas puderam avaliar as diferentes opções de gestão considerando a dimensão ecológica, social e institucional para desenvolver planos de adaptação. 

Propostas de adaptação e preocupações do setor 
Foram discutidas possíveis medidas de adaptação ou melhorias de gestão para alcançar uma pesca e atividade económica mais sustentável e resiliente face às alterações climáticas, nomeadamente 30 medidas de gestão concretas que foram discutidas com o setor da pesca. 

Todas as comunidades pesqueiras relataram ter notado já, em algum grau, o efeito das alterações climáticas em termos de condições meteorológicas, alterações na distribuição das espécies, aumento da temperatura da superfície do mar, entre outras. 

Embora cada comunidade tenha as suas próprias especificidades, algumas das preocupações e potenciais soluções discutidas na avaliação da medida de gestão são comuns.  
 

Envelhecimento dos profissionais e baixo preço na lota 
A idade avançada dos pescadores e o baixo recrutamento de jovens para trabalhar é uma das principais preocupações do setor, sendo necessário criar incentivos a entrada de pescadores mais jovens para a pesca. Outras medidas propostas estão essencialmente relacionadas com a melhoria das condições de trabalho, segurança e condições salariais na pesca.  

Além disso, a maioria dos participantes concorda que o preço de primeira venda de pescado em lota é muito baixo em comparação com o preço do consumidor final e que devem ser implementados mecanismos para obter um preço justo.  

Consensual foi a implementação de medidas como a criação de comités de gestão, planos de adaptação e uma gestão mais dinâmica, científica e ecológica das pescas, com um maior grau de envolvimento das associações nos processos de tomada de decisão.  

No entanto, a maioria dos pescadores considera que, devido às diferenças entre portos de pesca (frota de pesca), é difícil chegar a acordos alargados, sendo necessário muito trabalho para criar espaços de debate e levar a cabo estas medidas de forma consensual. 
 

Proposta de plano para o setor 
Nos próximos meses, todas as informações recolhidas serão partilhadas com gestores e associações de pescadores, para se avançar na proposta de um plano sectorial de adaptação às alterações climáticas das pescas em Portugal. 

Estes encontros intitulados "Conversas Clima-Pesca: Adaptação da pesca de Portugal às mudanças climáticas" estão inseridas no projeto Clima-Pesca, onde um dos principais objetivos é transferir informação sobre os impactos das alterações climáticas nas diferentes regiões de Portugal, a fim de discutir medidas de adaptação entre as partes interessadas da pesca.