O nosso investigador Marco Cerqueira esteve na Índia a convite da Fish Welfare Initiative para dar formação a futuros formadores de bem-estar animal em aquacultura. 

Porque fui à Índia?
Durante 15 dias em maio, estive na Índia a convite de uma Organização não governamental (ONG), a Fish Welfare Initiative, para dar formação a futuros formadores de bem-estar animal em aquacultura. 

A Índia está listada como o segundo maior produtor em aquacultura, logo a seguir à China, sendo que a introdução de melhores práticas podem ter um grande impacto no bem-estar dos peixes, na sustentabilidade do ambiente, e obviamente no volume de negócio. 

Foram duas semanas bastante preenchidas, onde percebi que a falta de conhecimento básico prejudica não só os peixes, mas também a sustentabilidade do ambiente e do negócio.

Oportunidades de capacitar formadores, alunos e produtores de aquacultura
Durante a estadia pude capacitar formadores na área do bem-estar animal, onde falei sobre os conceitos gerais deste tema, o processo para avaliar o bem-estar em aquacultura e como providenciar recomendações para melhorar as condições de cultivo. 

Tive a oportunidade de dar formação a alguns grupos de alunos, de uma escola secundária Sir C R Reddy College of  Science afiliada com a Universidade Adhikavi Nannaya, junto de algumas estações de aquacultura. Esta formação foi mais específica que a primeira, pois foi dada ao lado de tanques de terra onde consegui explicar-lhes como avaliar o bem-estar dos peixes produzidos nesses tanques (o sistema de cultivo mais usado no país). Os tanques de terra, são como o próprio nome indica tanques construídos diretamente na terra, e os mais naturais e próximos das condições originais em que os peixes nascem, crescem e se desenvolvem. 

Estive ainda em contacto com produtores de várias regiões do estado de Andhra Pradesh (o hub da aquacultura no País), nomeadamente em Eluru, Kolleru e Nellore. Numa primeira visita, juntamente com os futuros formadores, fiz uma espécie de questionários para entender quais as práticas/rotinas dos produtores e identifiquei as áreas a melhorar. 

Já numa segunda visita, fiz algumas recomendações para melhorarem as técnicas de cultivo, incluindo sugestões para melhorarem o bem-estar dos peixes e o aumento da produtividade para o produtor. Foi ainda ressalvado a importância destas melhorias para diminuir o impacto das práticas correntes no meio ambiente, permitindo reduzir o uso de antibióticos. 

Os produtores tiveram a oportunidade de discutir cada uma destas recomendações e também de fazer alguns exercícios como avaliar o comportamento dos peixes, amostrar um grupo de peixes em termos de peso e comprimento para calcular o Índice de condição – que nos informa sobre o estado de saúde dos indivíduos - e calcular a taxa de conversão alimentar (comumente definido como FCR- “Feeding conversion ratio”) do seu stock, para se ajustar o rácio de alimentação deforma a que a quantidade de alimento seja necessário para suprir as necessidades nutricionais dos indivíduos e promover o seu bem estar e a saúde do negócio evitando gastos desnecessários com excesso de ração. 

Possível acordo de entendimento entre o Sir C R Reddy College of  Science/universidade Adikavi Nannaya e o CCMAR
Enquanto estive na Índia realizei uma apresentação para cerca de 100 alunos e professores sobre este tema e sobre alguns trabalhos que tenho vindo a desenvolver no CCMAR, nomeadamente na descoberta de biomarcadores proteómicos de bem-estar.

No fim da apresentação, fui chamado ao gabinete do Reitor para discutir a possibilidade de assinar um MoU entre o colégio/Universidade da Índia e o CCMAR, para os alunos e professores desta região poderem ter acesso a quaisquer palestras online do CCMAR e de certa forma poderem partilhar conhecimentos e dificuldades. 

Neste acordo estaria previsto a possibilidade do CCMAR ajudar na reestruturação do conteudo didático do programa escolar de forma que o conceito de bem estar e de boas práticas de cultivo pudesse fazer parte do ensino neste colégio.