Perda de habitat e possível extinção de ervas marinhas no Mediterrâneo
Embora as alterações climáticas estejam a afetar a maior parte dos ecossistemas marinhos, no Mediterrâneo o impacto pode ser ainda maior e mais rápido. Investigadores do CCMAR e colaboradores publicaram recentemente um artigo inovador onde reportam a distribuição atual e previsões de distribuições futuras de duas espécies que formam pradarias marinhas, mostrando onde estas poderão sofrer perdas significativas e onde se poderão refugiar.
As pradarias marinhas estão já a sofrer um enorme declínio no Mediterrâneo, um cenário que este estudo prevê que venha a agravar-se muito, tendo em conta as previsões traçadas pelos cientistas em relação às alterações climáticas. Neste estudo, os cientistas utilizaram modelos de distribuição juntamente com dados de genética, para prever a perda de diversidade genética devida a perda de habitat destas pradarias marinhas.
De acordo com os piores cenários, Posidonia oceanica pode vir a perder 75% do seu habitat até 2050, correndo mesmo o risco de perda total de habitat e diversidade genética até 2100 ou regressão para pequenas populações, com enorme perda de funções destes ecossistemas. A espécie Cymodocea nodosa regista perdas de habitat menores, na ordem dos 46.5%, pois a perda no Mediterrâneo seria compensada pelo ganho no Atlântico. Contudo a sua atual diversidade genética, de acordo com o estudo, poderá vir a sofrer processos de erosão que inevitavelmente terão repercussões nestes ecossistemas.
A perda de pradarias marinhas, e em particular as de Posidonia oceanica que é uma espécie com papel ecológico fundamental no Mediterrâneo, terá enorme impacto ecológico, alertam os cientistas, que complementam esta predição com a possibilidade de libertação de enormes quantidades de carbono para a atmosfera, uma vez que estes ecossistemas são armazéns que retêm carbono ao longo de toda a sua existência milenar.
O estudo assume-se de extrema importância como guia para ações de conservação e gestão, que possam ser tomadas por gestores e decisores políticos, de forma a evitar a perda de pradarias marinhas e o declínio dos ecossistemas.