Estudo faz parte de projeto que visa melhorar a qualidade de vida de comunidades piscatórias em Quelimane, Moçambique
O estuário dos Bons Sinais, em Moçambique, é utilizado diariamente pelas populações locais que dependem da pesca para sobreviver, como fonte primária de alimento. Apesar da importância das pescas nesta zona, não há informações científicas disponíveis (biológicas, ecológicas ou socioeconómicas) que apoiem um plano de gestão sustentável de pesca e da conservação da biodiversidade marinha a longo prazo. O artigo recentemente publicado pelos nossos investigadores, no âmbito do projeto BIOFISH-QoL, com a colaboração de duas instituições de Quelimane, expõe informações biológicas de 13 espécies de peixe de importância económica, capturadas pelas comunidades piscatórias, ao longo do estuário.
A importância dos estuários no ciclo de vida dos peixes
O ambiente estuarino tem um papel fundamental no ciclo de vida dos peixes, sendo utilizado como área de refúgio, alimentação, reprodução e/ou crescimento. Muitas espécies de peixes passam apenas uma parte do seu ciclo de vida no estuário, normalmente nas fases inicias de desenvolvimento como as larvas e os juvenis. A abundância de juvenis nas capturas, sugerem que a maioria dessas espécies utilizam o estuário dos Bons Sinais como zona de alimentação e crescimento. Desta forma, a incidência da pesca sobre os juvenis, através do uso de artes de pesca poucos seletivas, como as redes de arrasto e a chicocota (arte de pesca que usa malhas muito pequenas, rede do tipo mosquiteira, mas que é fixa em zonas contra a corrente), podem afetar a taxa de recrutamento da população adulta e , consequentemente, a disponibilidade de peixes para futuras gerações que sobrevivem da pesca nos Bons Sinais.
Investigadores preocupados com sustentabilidade dos recursos pesqueiros
Os principais resultados deste estudo mostram que a maioria das espécies capturadas eram juvenis, e por isso, estavam abaixo do seu tamanho mínimo de captura. A Lei das Pescas de Moçambique que estabelece o tamanho mínimo das malhas nas artes de pesca, permite a captura de indivíduos juvenis de várias espécies de peixes. Isto acontece, uma vez que esta lei foi estabelecida com base no tamanho de captura de camarões, e não de peixes. Apesar de o tamanho das malhas utilizadas nas artes de pescas cumprir a Lei das Pescas Moçambicana (Lei 3/90 de 26 de setembro de 1990), esta permite a captura de indivíduos juvenis de todas as espécies estudadas, com taxas de captura que variaram entre os 68% e os 100% de juvenis na composição das amostras.
Através dos resultados deste estudo, os investigadores sugerem que esta lei seja revista e que o uso das artes de pesca pouco seletivas sejam reduzidas, de forma a colaborar com o plano de gestão das pescas e da conservação dos reservatórios pesqueiros moçambicanos.
Pode ler o artigo completo AQUI.