Alga marinha do género Caulerpa invade Ria Formosa 
A lagoa da Ria Formosa do Algarve é conhecida por possuir uma grande biodiversidade e servir de berçário e habitat para várias espécies de interesse comercial. Para além disso, desempenha um papel muito importante na economia da região do Algarve, uma vez que é lugar de lazer para a toda a comunidade e visitantes, e suporta várias atividades económicas durante todo o ano.

As algas marinhas do género Caulerpa têm despertado bastante atenção, uma vez que muitas das suas espécies foram introduzidas em regiões não nativas e tornaram-se invasivas, particularmente no Mar Mediterrâneo. Este é o caso da espécie de alga verde Caulerpa prolifera que tem vindo a expandir-se rapidamente na lagoa da Ria Formosa, dominando os fundos marinhos não vegetados e competindo com as pradarias de ervas marinhas que se encontram nas zonas mais rasas. 

A expansão desta alga marinha tem gerado algumas preocupações, pois pode colonizar rapidamente sedimentos nas zonas sem vegetação, sendo mais eficiente do que as ervas marinhas em condições de pouca luz. Os impactos da sua propagação são particularmente preocupantes quando se sobrepõem à expansão das pradarias de ervas marinhas, uma vez que estes ecossistemas estão entre os mais valiosos e importantes da Terra em termos de biodiversidade e serviços ecológicos que suportam.

Assim, os nossos investigadores dos grupos Marine Plant Ecology e Fisheries, Biodiversity and Conservation juntaram-se para compreender e responder à seguinte questão: “Como é que a rápida expansão da alga Caulerpa prolifera pode afetar a biodiversidade da lagoa da Ria Formosa, mais especificamente, o fornecimento de habitat e berçário para as espécies comerciais?”.

Quais as consequências da expansão da alga Caulerpa prolifera na Ria Formosa?
Neste estudo, desenvolvido pelos nossos investigadores e recentemente publicado no Science Direct, são reveladas quais as consequências da expansão desta alga verde na biodiversidade e nos habitats e berçários que o ecossistema da Ria Formosa oferece:

• Os fundos arenosos/lamacentos da Ria Formosa estão a ser substituídos por pradarias da alga C. prolifera. A biodiversidade anterior foi alterada, mas não diminuiu significativamente.
• A alga C. prolifera forma habitats significativamente menos diversificados do que os ecossistemas de pradarias de ervas marinhas.
• Ao expandir-se ao longo da Ria Formosa, esta alga provoca uma grande redução do crustáceo Apseudopsis formosus, que é uma fonte de alimento para os cavalos-marinhos que também se encontram em declínio.
• Espécies de peixes juvenis com valor comercial, como os peixes achatados (linguado) e da família Sparidae (dourada e sargo) não foram observados nas pradarias desta alga verde, ao contrário do que foi observado nas zonas sem vegetação e nas pradarias de ervas marinhas, respetivamente. Consequentemente, a expansão desta alga, pode vir a reduzir a disponibilidade destas espécies para o uso na pesca local.

Propagação da alga C. prolifera na Ria Formosa pode alterar a sua estrutura e biodiversidade
Este estudo, revela que o aumento da propagação da alga C. prolifera na Ria Formosa pode alterar a estrutura das comunidades nativas e diminuir a diversidade dos habitats. Os investigadores descobriram que a sua expansão pode causar impactos negativos em espécies de peixes juvenis de interesse comercial como os peixes achatados e sargos. Estas espécies de peixes só foram encontradas associadas aos habitats nativos da Ria como as pradarias de ervas marinhas e fundos arenosos sem vegetação. 

Os investigadores já estão a preparar um novo estudo para delinear as futuras implicações desta alga nas cadeias alimentares da Ria Formosa, onde questões como a disponibilidade de alimento para os cavalos-marinhos serão abordadas. 

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