Quem iria imaginar que uma alga vermelha poderia ser uma das ferramentas mais eficazes para combater as alterações climáticas?

Uma research trend alert por Leonardo Mata

Quando se fala em emissão de gases de efeito de estufa, o dióxido de carbono recebe o maior destaque. No entanto, o gás metano provoca um efeito de estufa 80 vezes superior ao do dióxido de carbono a uma escala de 20 anos. Uma das actividades humanas que mais contribui para a emissão de gás metano para a atmosfera é a produção de gado, uma vez que este gás é o principal subproduto da fermentação anaeróbica que ocorre durante a digestão dos animais ruminantes (ex. vaca e ovelha). Atualmente, a produção de gado liberta cerca de um quarto do total das emissões de gás metano na atmosfera, com um impacto global maior do que toda a frota de carros, aviões e barcos do mundo juntos.

A dieta do gado bovino e ovino pode, contudo, ser alterada, com efeitos revolucionários para o planeta. Recentemente, investigadores australianos demonstraram que adicionar apenas 2% da macroalga marinha vermelha Asparagopsis taxiformis na dieta de animais ruminantes reduz a emissão de gás metano em mais de 95%. Traduzir esta descoberta científica numa solução global apresenta muitos desafios. Um deles é como produzir esta macroalga em larga escala para responder às necessidades globais na ordem dos 1.5 mil milhões de vacas e 1.2 mil milhões de ovelhas.

A nossa equipa de investigação no CCMAR tem experiência acumulada na produção desta espécie de macroalga em sistemas de cultivo em terra. Fomos convidados a integrar uma equipa composta por investigadores e aquacultores de três continentes  com financiamentopara avançar o conhecimento necessário para permitir cultivo de A. taxiformis no mar e, desta forma, desbloquear o seu potencial para o combate às alterações climáticas.

Estamos a desenvolver métodos novos e robustos para 1) controlar o complexo ciclo de vida desta macroalga, 2) criar o primeiro banco de sementes (incubadora) para esta espécie, 3) cultivá-la em larga escala no mar do Vietname e 4) estudar a produção dos compostos químicos que inibem a produção de metano em animais ruminantes.

A produção  de macroalgas no mar contribui também para combater a acidificação dos oceanos e recuperar habitats costeiros. Para além destes benefícios ambientais, transformar a macroalga Asparagopsis numa nova cultura comercial vai trazer oportunidades económicas para as comunidades costeiras (Economia Azul) e contribuir para resolver desafios societais de zonas empobrecidas, onde a produção de algas marinhas é dominada por pequenos produtores, especialmente mulheres.