O dióxido de carbono (CO2) emitido para a atmosfera desde a Revolução Industrial levou a um aumento global sem precedentes da sua concentração, de 280 ppm para mais de 400 ppm. O oceano tem vindo a absorver cerca de 30% desse aumento, compensando parcialmente o excesso de CO2 na atmosfera, mas com drásticas consequências para oambiente marinho, entre elas, alterações na produtividade primária. Os “Eastern Boundary Upwelling Systems” (EBUS) estão entre os ecossistemas marinhos mais produtivos domundo, desempenhando um papel fundamental no sequestro de carbono. Três dos quatro EBUS do mundo mostram já claras evidências do impacto das alterações climáticascom a intensificação dos ventos, enquanto que as consequências no EBUS das Canárias/Ibéria se mantêm incertas. Na Ibéria, a EBUS é a base de sustento de uma extensacomunidade que depende socioeconomicamente dos produtos e serviços fornecidos por esse sistema. É por isso, fundamental compreender de que forma este sistema respondeàs mudanças provocadas pelas alterações climáticas, bem como prever a sua evolução futura. Para responder a estas questões, é crucial definir claramente os diferentes contributos da variabilidade natural e da pressão antropogénica nestes sistemas, nomeadamente, usando indicadores de produtividade.
Nos últimos 50 anos desenvolveram-se diversos indicadores para reconstruir a produtividade marinha do passado, contudo, cada um deles apresenta limitações específicas (e.g.demora nos processos, dependência das condições de profundidade, salinidade, circulação, aporte local ou baixas concentrações elementares), pelo que é necessário recorrer ao usocombinado de dois ou mais desses indicadores, de forma a garantir uma reconstrução robusta. Desta forma, é imperativo procurar indicadores de produtividade mais robustos ede fiáveis. O potencial uso dos elementos de terras-raras (ETR) como indicadores das condições oceânicas do passado foi reconhecido nos anos 80, no entanto o seu uso foilimitado pelo impacto dos processos diagenéticos e comportamentos de readsorção observados destes elementos até recentemente. Os ETRs medidos em foraminíferosplanctónicos parecem responder às variações de produtividade superficial. De facto, as características únicas dos foraminíferos planctónicos (e.g. a sua preservação nossedimentos marinhos, ampla distribuição e conhecimento da sua ecologia, e uso generalizado como arquivo paleoceanográfico) faz com que sejam ideais para a investigaçãodos ETRs.
Este projecto tem como objectivo desenvolver a investigação e estabelecer o uso dos ETRs em foraminíferos planctónicos como indicadores de produtividade. O estudo foca-se namargem oeste da Ibéria, como parte do EBUS da Canária/Ibéria, um sistema altamente produtivo mas ainda nunca investigado para este fim. Por forma a atingir o nosso objectivo,iremos utilizar uma abordagem “multi-proxy”, integrando o uso de foraminíferos planctónicos vivos e fósseis (adquiridos através de redes de plâncton e em sedimentos superficiais,respectivamente).
Membro da equipa de investigação:
- Andreia Rebotim (IP, CCMAR/IPMA)
- Cristina Lopes (Co-IP, CCMAR/IPMA)
- Antje Voelker (CCMAR, IPMA)
- Emília Salgueiro (CCMAR/IPMA)
- Pedro Aboim Brito (IPMA)
Consultor externo:
- Adina Paytan (Universidade da Califórnia, EUA)